Sinto saudade de comprar os jornais de domingo (a gente comprava até os de fora de SP, o Globo, o Zero Hora, o Correio) e ler tudo com a minha mãe, comendo pão de padaria e dando risada.
A gente ainda dá risada até as veias dos olhos explodirem, mas é diferente.
Bem, a vida, a vida é diferente.
Sinto uma falta imensa de abrir o jornal e ler o Verissimo. Não leio mais jornal e não me envergonho de dizer isso.
Teve uma época da minha vida que eu morreria antes de dizer um trem desses. Agora digo tranquilamente.
Tem algum colunista que vocês (virtualmente, eu sei) abrem o jornal pra ler? O que é que vocês estão lendo assim, com amor, com devoção? Alguém?
A conversa trudia foi acerca de livros – teve também umas fofocas suculentas e narração das minhas trapalhadas de mulher-idiota-que-mora-só (minha mãe viajou) – mas no geral, falamos de livros. Falaram. Eu meio que mais ouvi do que falei, como de hábito.
Conversê acabou, dei conta das minhas tarefas ouvindo coisas que adoro, subi, vi série ruim (ainda tou vendo) e agora que não consigo dormir nunca mais na minha vida (violinos), fui para a internet fazer minha segunda coisa preferida: acumular fotos sobre um assunto específico (minha primeira coisa preferida de fazer enquanto ouço séries ruins – cada um tem O direito de nascer que merece – é arrumar as fotos roubadas pela rede, cada uma em uma pastinha certinha, numa ordem imaculada, ordem que seria de grande valia se eu conseguisse mantê-la em minha vida fora da tela).
Minha busca das fotos daquele dia: fotos dos Verissimos. Muitas, muitas. Pensando no Verissimo filho, pensei em jornais etc. e senti saudade daquele tempo. De quando eu lia as crônicas dele e recortava e colava no caderninho – coisa que fiz até ele deixar o Estadão há dois ou três anos.
O pai, o filho e, com os óculos certos, o Espírito Santo
Me dei conta de que não leio mais com tanta alegria. Só releio meus velhos.
Mas não vou, realmente, com fome para o texto de quase ninguém. Leio autores novos na medida do possível e releio meus amores de sempre. Mas sem joelhos bambos, olhos marejados, mãos tremendo. Se isso for envelhecer, tou odiando. Nada de paixões para mim, ao que tudo indica, nem nas prateleiras. Nada mais me move tanto assim.
(isto posto, falta um tico preu refazer a coleção completa de Fradinhos que meu velho detonou feito o irresponsável que era e, ai, como é maravilhoso ler o Henfil escrevendo cartas à margem de cada folha, de cada caderninho – outro cara que amo).
Lembro-me de já haver discutido com a Andréa Kogan ler x reler, porque ela é uma leitora ávida e sempre traz seus olhos frescos, prontos para o novo, abraçando qualquer escritor que possa vir a interessá-la como se fosse um velho amigo. Eu, de minha parte, estou sempre ranzinza e resmunguenta, querendo voltar para casa ou, enfim, para as páginas conhecidas dum velho amor.
O mundo precisa de mais Andréas, menos Fabias etc. e tal. Sabemos.
Pois saiba que ler você, aqui, é tão legal quanto esperar a crônica do Veríssimo na zero hora de domingo ❤️
Amei o texto, como sempre. Eu também vivo saudosa dos jornais de domingo que, embora ainda compre de vez em quando, não são mais a mesma coisa dos tempos de outrora...