Tenho pensado muito em escrever.
Não exatamente no que vou escrever e sim no ato de escrever.
Escrever é registrar.
Registrar é olhar em volta ou para dentro e ver e observar e analisar e sentir e perceber e conjecturar e projetar e racionalizar e enumerar e resumir e narrar e repetir-para-elaborar e planejar e compor planos mirabolantes, resenhas infernais, súmulas inquietantes, relatos coloridos, listas comoventes.
Registro é o que nos define.
Somos os caras que registram.
Antes da escrita registramos escavando ossos e desenhando nas paredes de cavernas e nas superfícies das rochas, espalhando flores em torno dos corpos sepultados de nossos entes queridos, produzindo utensílios e tratando peles de animais. Depois da escrita, inventando símbolos, alfabetos rebuscados, tomos e mais tomos gramaticais e regras ilógicas sobre o uso do hífen em plaquinhas de argila, pergaminhos e papel de carta da Hello Kitty.
Somos os caras que registram com nossos celulares, nossas publicações independentes, nossos sites e nossa indignação seletiva aqui e ali na rede social.
“Quem são esses aí?”, vai perguntar alguém de passagem pelo planeta.
“São os caras do registro”, vai responder o outro E.T. “Eles relatam o que veem e sentem, anotam e desenham, costuram e modelam, escrevem e solfejam, pintam as paredes mesmo sabendo que vão apanhar quando pai chegar em casa. Eles fotografam o risoto feio para o Instagram, gravam áudios de oito minutos para a Mariana, guardam o sapatinho do bebê para que gerações e gerações tenham acesso a ele, produzem livros, colam recortes em caderninhos fofos, sobem cartas de amor para a nuvem, escrevem recados dolorosos enquanto ouvem o coração trincar e a chuva cair no meio da madrugada”.
Escolha uma coisa, uma coisa perto de você e registre.
Do jeito que você puder ou quiser.
Com palavras, imagens, desenhos ou voz (vamos evitar, por enquanto, os ossos entalhados, meu bem).
Faça seu registro, mande para mim.
Adoro escrever. Inclusive escrevo diário desde o dia que, aos 7 anos de idade, ganhei um daqueles diariozinhos com cadeado do meu pai.
Eu estava sentada no chão, computador no colo, Helena quase dormindo no colchão ao meu lado quando li numa newsletter sobre ser mulher, escritora e mãe. Não sou muito de tirar fotos, mas tirei uma de parte do computador e parte do rosto da criança. Ia te mandar por aqui, mas acho que por comentário não dá. Fica o registro por escrito mesmo.