Querido A, eu tinha duas abobrinhas na geladeira. Donde vieram? E quem sabe? Não tenho recordação de tê-las comprado, a mã jura que ela não foi.
Bem, duas abobrinhas grandotinhas na geladeira, procedência desconhecida.
Duas cebolas também. As abobrinhas eram grandotinhas, mas as cebolas eram descomunais – cebolas transgênicas, transequatoriais, transmanchurianas.
Ralei as abobrinhas, refoguei num mar, num oceano de cebolas picadas.
Aqui, também, macarrão muito digno. Não do azul, jamais comprarei do azul novamente. Etiquetona branca, um excelente e esnobe macarrão. Quando pronto, entendi que ele deve mesmo ser esnobe, pois, divinal.
Creme de leite ou molho vermelho, caríssimo A?
Creme de leite.
Sal reguladinho, pimentinha presente (gosto da pimentinha).
Estava a um segundo de juntar abobrinhas e cebolonas com creme de leite ao belo macarrão, quando a mã apita: temos presunto novinho.
Ora, ora, ora.
Presuntinho comprado no dia anterior, pois eu estava com a péssima maquinação de comer um sanduba. Esqueci completamente do sanduba e ainda bem.
Veja, tudo pronto, tudo belezinha e eis que a mã se materializa na minha frente anunciando um presunto muito do querido olvidado na geladeira – mediatamente picadinho&agregado à alegre equipa abobrinhal-cebolal-cremedeleital, enfeitando maca há pouco escorrido no escorredor de ágata que pertenceu à senhoura minha avó (também conhecida como vó – quem tem uma mã, tem uma vó, claro).
O vinho rose aberto na geladeira não deu nem para o começo, abri outro, maquinho devidamente aproveitado, vinho de grande honradez, louça lavada, catiorro na caminha, eu também na caminha, pois, dia seguinte, cedo, bem cedo, conversê com competente escritora.
Eu poderia usar toda essa história de introdução para fazer fala chatinha sobre a necessidade sobre nosso texto pronto dum segundo olhar para nos alertar que sempre há como melhorar o que já está divino, pois misteriosos são os caminhos da vida, da escrita, das cebolonas douradas na manteiga, do presuntinho e do bem-querer.
Vou apenas, porém, comentar que o parmesão ralado por cima do espaguete não estava nada mal.
Domingo, né, A?
beijos,
F
Em tempo:
Talvez Camões amasse a Infanta D. Maria, irmãzinha do rei, talvez amasse Catarina de Ataíde, a filha do senhor de Eixo e Requeixo, quem é que pode afirmar? Mas o velho certamente ama Adélia, seus olhos exatos, sorriso que alicia, palavras que alcançam e amou entregar-se a ela, bandalho, feliz. Estamos com lágrimas nos olhos, com o peito quentinho, com a cabeça zonza. Querida, querida Adélia Prado, a Drops Editora te saúda, te adora, clama por teu nome. Adélia, Adélia, Adélia.
Muito feliz pela Adélia!
Que texto gostoso, literalmente 😋