Vagamente uma lista - domingos
Domingos: palavras, expressões, conceitos, desistências, dores e ideias
Óculos, tiaras, brincos, vozes gravadas, copos de vinho, as pílulas milagrosas da Andréa, lasanhas de berinjela, aventuras muito loucas da pesada pelo maravilhoso mundo da arrumação de livros, aulas preparadas com precisão, unhas crescendo lentamente, tortas de frango, plurais, plurais, plurais e solos de guitarra que certamente me conquistariam, criatura fraca que sou.
Escolha, Caetano, suflê de suflê, calor, calor, Bolero, calor, calor, eu moraria num telhado com você.
Anotações desconexas, o dia todo com vontade de chorar, canetas sem tampa, desenhos ruins, letra feia, calor em junho, coisas difíceis de falar, coisas difíceis de ouvir, as ferramentas que não possuo, os retornos inesperados, o dia todo com vontade de chorar, madrugada de vizinhos barulhentos, sentir-se alquebrada, comida horrível, circunstâncias atenuantes.
Bagunça, cansaço, tristeza, a raiva absurda de não conseguir fazer diferente, objetos fora do lugar, garrafa de água tônica explodida dentro do freezer, evidências claudicantes, impotência, viver para lutar um novo dia, compota de goiaba, almoço bem horrendo, transgressões mínimas, respostas improváveis, toalhas na máquina, total impossibilidade de catar aquele telefone e ligar e pedir para você só cantar para mim.
Couve. Imã. Documento. Sempre. História. Mitocôndria. Dia. Caminhão. Mundo. Júpiter. El Bulli. Primeiro.
A lembrança de que tempo houve em minha vida em que o dia mais importante do ano era o seu aniversário.
Livrinhos coloridos, cães estranhos, móveis a alguns centímetro do chão e plantas que desafiam as leis mais básicas da botânica: desenhos de um monstro que não sabe desenhar, duma vida improvável, dum alguém que não está.
Uma voz de outra galáxia, unhas que se roem até sangrar, alô-alô, responde, o de sempre, o de sempre, suspiro, tudo bom?, tudo, o Brasil, o Brasil, calma, segura, espera, respira, olhos abertos, fechados, abertos, sussurro, sopro, golpe, gole no vinho, calma, fala, não, não fala, espera, conta, ri, espera, ri de novo, interrompe a frase, fala, fala, despede, tchau, não fala, respira, o chefe da polícia não gosta de mim. Não de verdade.
Anotações, datas, meia-volta, cancelamento, pronomes, a semana, a semana, caneta de tinta preta, desenho de monstro, orações subordinadas, pequenos desaforos, outra taça de vinho.
Desenhos em papeizinhos vários, citações do blog da Nepomuceno, mandados de busca e apreensão emocional, listas de nomes para a narradora, uma palavra para o Paulo Candido explicar para mim, instruções complicadas que jamais seguirei, quadradinhos coloridos com lembretes perdidos, a canção para o Maycon, sua última frase delicada para mim, anotações de aniversário, manchas arredondadas de muitos cafés com leite, linques das imagens que você seleciona, a receita da torta perfeita para a Fabi. Um domingo, um caderninho, uma (hahaha) taça de vinho.
Faixa-bônus:
Cabe tudo em um caderninho,
o que foi escrito e o que não foi,
o que vivemos e o que se perdeu,
o silêncio de cada passo,
as trovoadas que nos cobriram,
o barulho do metrô parando numa estação que, eu sei, nunca existiu.
Domingos para sempre.
beijo,
Fal
Eu te leio, Fal. Fique bem. <3
Você escreve, ilustra e também encena?! hehehe Menina prodígio! Gostei da sua caligrafia. E da convocação que fizeste às palavras para a batalha... Por vezes, é assim mesmo: ligar o 'modo sobrevivência' e deixar o fluxo da consciência nos descortinar algo pelo qual vale o esforço da resistência. Estarei na plateia torcendo por ti. Avante com todas as letras!!