Tudo tão simples e tolo, né, a pessoa nem precisa estar com as sessões de análise em dia para entender (por acaso, a pessoa está).
Acontece que se fosse fácil entender o simples e o tolo, well, well, well.
Mermão estava aqui. Usou meu belíssimo escritório (sério mesmo, belíssimo, agende um tour) para atender os pacientes dele e também precisou da minha impressora para imprimir uns lances.
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Ah, a minha impressora. Vinte e tantos anos de serviços prestados — foram bons até uns dez, doze anos atrás e, de lá para cá, tão se esforçando para serem razoáveis.
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Há muitos meses, a Suzi me deu o Linque duma impressora comprável, cuja tinta dura muitíssimo mais do que a da impressora atual e me disse, inclusive, que a Drops Editora paga uma bicha nova para mim.
Resmungando e esperneando, estou a me recusar todos os dias em mandar embora a impressora velha.
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Não mais do que quinze minutos de conversa com meu irmão, que ria do esforço sobrenatural que tivemos de fazer para imprimir meia dúzia de fichas, preu me dar conta de que não quero me desfazer duma impressora de vinte e muitíssimos anos porque essa era a impressora do Alexandre. Foi preciso que, literalmente, saísse fumacinha da cafeteira de expresso do meu falecido marido preu ceder e comprar outra, quase dez anos depois do Alê ter morrido. Vamos para os quase vinte que ele morreu e a impressora está aqui — sem produzir fumacinha, mas quase.
Essa sou eu. Despeço-me de cada fase, pessoa, promessas (vazias ou não), com dificuldade, dor, montanhas de negação.
Até para quem não gosta de mim acho difícil dizer tchau.
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Tudo isso para resmungar acerca de uma história que não se resolvia até que, quinta-feira passada, ouvindo uma aula do Claudio Luiz, arquiteto e artesão, sobre janelas e a estranha estrutura que as serve, puff, entendi o que faltava no meu conto. Pude, enfim, mudar o que carecia de ser mudado e terminá-lo.
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Sim, sabemos, nada é puff. A mudança se arrasta por aos e anos em nossa vida e letras, até que, um dia, puff.
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Em vez de dizer para você agir como um adulto, entender e aceitar a mudança e fazer o que é preciso para terminar sua história, livro, conto, poema, digo: deixa para lá. Esqueça.
Talvez você chore na frente do seu irmão porque um amor morreu, um cara que um dia você amou a odeie (um irmãozinho tão fofo, mas como alguém pode te odiar, Bi?), a impressora não a obedeça, o conto tenha parado quase no fim e tudo esteja perdido.
Talvez uma brilhante explanação do Clau alcance você quando os parágrafos realmente parecerem para além de qualquer salvação, talvez um livro novo chegue e, ah, ele seja uma belezinha e alguém a leve para jantar num lugar que lembra uma caixa forrada de veludo dos anos 1970, com música e gentileza.
Talvez nada, nada disso aconteça.
Não importa: mudança alcançará a todos nós, os que a aceitam, os que se recusam a olhá-la nos olhos, o que sequer lhe concedem a graça dum apelido gentil.
A mudança virá e levará nossas cafeteiras, hipérboles, boas soluções de enredo, lista de quefazeres e mecanismos de sobrevivência com ela.
Compre uma impressora nova ou não, trabalhe no seu texto, não trabalhe: ele mudará e, você, também.
as coisas passam, nem que sejam por cima de você, mas passam.
te amo, Fal e minha impressora velha de guerra também está em seus últimos suspiros. me recuso.