From the forests and highlands
we come, we come
Shelley
Cheguei ao mondo blog no comecinho de 2002.
O amigo que me ensinou sobre os blogs disse vagamente que eram "páginas na internet, fáceis de montar, onde você pode escrever o que quiser, quando quiser". Eu usava a teia eletrônica desde 1997 e nunca tinha ouvido falar deles.
Tendo o blog (já extinto) do meu amigo como plataforma de lançamento, comecei um blog meio parado e conheci outros blogs. Muitos.
Foi uma imensa surpresa. Uma alegria.
Eu sabia escrever daquele jeito, eu podia me expressar assim.
Se o cotidiano daquelas pessoas servia para a escrita, ora, o meu serviria também.
Nos blogs, produzindo meu material e lendo os dos outros, descobri, a cada dia, que sim, eu tinha o que dizer. Todos temos.
De lá para cá, venho escrevendo na interneta. Lanço livros? Claro.
Mas onde escrevo?
Isso mesmo. Aqui.
O autor, na internet, irá se construir diária e lentamente diante de seus leitores. Ele vai se revelando, uma anágua aparece aqui, um lenço cai ali.
Um gosto, um medo, uma alegria, um sonho.
O escritor fará pequenos comentários reveladores ao longo do processo, deixando que seus leitores percebam, não uma pessoa pronta, uma obra acabada, mas um narrador em construção.
Um escrito, qualquer um, virtual ou não, nunca é um relatório fiel e exato da vida de seu autor. Você não tem paciência ou tempo de contar tudo que vive e nem quer registrar cada experiência (algumas experiências devem mesmo ser esquecidas, em verdade vos digo). Você não se orgulha de todos os seus atos e pensamentos, não assume ou controla todas as suas paixões. Mesmo num diário de papel, o autor pode editar o que não deseja registrado. Na rede essa possibilidade de edição se amplia, porque você também quer proteger partes da sua realidade, de seus pensamentos e ações dos olhos alheios. Você quer ser lido sim e, não raro, querido, mas escolhe, todo o tempo, pelo que quer ser conhecido.
(só para que você se lembre: há também os que não desejam que você os tome como queridos)
A literatura começa quando alguém se propõe a falar de si e sobre o mundo por meio das palavras.
Literatura é, também, recriação da realidade.
Uia, o velho e bom Sartre ficaria feliz em saber que em muitos lugares desta vasta rede há autores se desnudando e propondo pactos aos seus leitores.
Nem todo mundo produz literatura na internet e, exatamente feito acontece noutros veículos, nem toda literatura produzida na internet é de qualidade (defina literatura de qualidade, dona Fabia).
Italo Calvino diz que devemos ler os clássicos porque é melhor ler os clássicos do que não ler.
Aqui falamos da mesma coisa. Escreva, também, na internet. É melhor que não escrever.
Atravesso uma semana particularmente triste e é muito bom saber que há alguém aí.
Domingo? Domingo.
Fal
Eu de vez em quando desaprendo como se faz isso. me encolho, recuo, me escondo. É difícil voltar a enfileirar palavras com ou sem sentido. Acolher os riscos. Mas leio você e me dá uma coceirinha de querer, de ir, de tentar mais um pouco
entre idas e vindas, também estou nessa de escrever na internet desde o início dos anos 2000 (caramba, estou velho!). é muito interessante perceber o processo. pego pra ler os textos antigos e vejo o quanto mudei, coisas que aprendi, opiniões que deixei de ter, outras que ganhei…